CORPO, ESTÉTICA E VENENO: UMA LEITURA NATUROPÁTICA E DA GINECOLOGIA NATURAL SOBRE A PROIBIÇÃO DO GEL PARA UNHAS
- Sassá Tupinambá

- 10 de nov.
- 3 min de leitura
A recente proibição, pela ANVISA (saiba mais), de substâncias presentes em esmaltes em gel reacende um debate profudo sobre o lugar do corpo feminino em nossa sociedade e sobre a forma como a indústria cosmética opera. Mais do que uma simples questão de “um produto que faz mal”, estamos diante de um processo histórico de disciplinamento dos corpos femininos, especialmente das mãos, que são símbolo de trabalho, criação, afeto e autonomia.
Os compostos proibidos — como TPO e DMPT — não são venenos acidentais. Eles são ingredientes pensados para endurecer, selar e plastificar as unhas diante da luz ultravioleta. Ou seja, aplicam à matéria viva os mesmos princípios usados para endurecer resinas industriais e peças técnicas de laboratório. O corpo aqui torna-se extensão da máquina: rígido, controlado, iDmpermeável.
A Ginecologia Natural compreende que o corpo é território sensível, energético e relacional. Nada do que aplicamos sobre a pele, unhas ou mucosas é neutro. Ainda que a unha seja um tecido queratinizado, ela se insere em um sistema vivo, irrigado, energético e orgânico. Quando há cortes de cutícula, microfissuras, inflamação ou contato diário, há absorção, há impacto, há memória tecidual. Já falamos sobre quimicas que adoecem nosso corpo encontradas em outros produtos femininos, neste post anos atrás.
Mas talvez o ponto mais profundo seja: por que chegamos ao ponto de normalizar o uso de substâncias relacionadas a desregulação hormonal e riscos reprodutivos como parte da rotina estética feminina?
A resposta é política.
O que se chama de “feminilidade” na sociedade ocidental contemporânea é, em grande medida, um projeto de controle. Um corpo feminino considerado “bem cuidado” é aquele que se ajusta, se polimenta, se alisa, se embranquece, se apaga. A estética da manicure — especialmente do gel — responde a essa lógica: unhas sempre prontas, sem falhas, sem rachaduras, sem fissuras, sem pausa. Uma feminilidade contínua, sem descanso, sem ciclo.
Porém, o corpo feminino é cíclico, fluido, mutável.
A estética plástica nega o ciclo.
E tudo que nega o ciclo adoece o útero.
A Naturopatia, ao contrário, parte do princípio de que o cuidado precisa respeitar o ritmo da natureza — interna e externa. Por isso orienta a substituição de cosméticos industrializados por alternativas naturais, de composição simples, de preferência artesanais, sustentáveis e produzidas em pequena escala, onde a relação entre quem faz e quem usa permanece humana e consciente. Essa escolha não é apenas ecológica: é ética e corporal. É devolver ao corpo o direito de respirar, regenerar, descamar, viver seus ritmos e retornar a si.
Também é essencial considerar a cadeia de trabalho. Não é apenas quem “usa” o produto que é afetada. As manicures, majoritariamente mulheres, muitas negras e periféricas, expostas diariamente aos vapores e às resinas, são as que mais adoecem. Portanto, discutir cosméticos é discutir classe, raça e trabalho. Não há cuidado real sem olhar para quem sustenta o serviço.
Por isso, ao invés de perguntar “qual esmalte posso usar agora?”, a pergunta mais sábia é:
Quais relações estou afirmando quando escolho como cuidar do meu corpo?
Cuidar de si não deveria ser um ato de violência.
A beleza não precisa ser química, rígida, brilhante e impermeável.
Ela pode ser viva, orgânica, irregular e cíclica — como a própria vida.
Retornar ao natural não é retrocesso.
É retorno ao corpo como território sagrado, e não como superfície de consumo.
Quer cuidar da saúde com a Naturopatia ou a Ginecologia Natural?








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